quarta-feira, 28 de setembro de 2011

AGENDA 1965



15/fev.

Com a ajuda do Murilo Leví consigo reunir os trabalhos exigidos pelo DASP em meu processo de readaptação. Anotei as despesas. Fotocópias: 40.500,00; autenticações: 52.000,00; e o porte aéreo: 1.500,00 cruzeiros.
Vou ao Tribunal de Justiça pleitear uma certidão para ser remetida ao Líbano.
Em casa, verifico que a tela do Maciel está pronta.

18/fev.

Os planos de autocontrole e preparação do amanhã progridem. As margens de excesso nas farras vão se reduzindo, as más línguas perdem veneno. Pouca gente sabe compreender o esforço de um homem com duas casas para manter, com a mãe perturbada, o pai envelhecido e seu único irmão sem a menor possibilidade de lhes prestar qualquer ajuda. Maktub ou Nacib, diria meu tio José, nomeando, em árabe, destino ou fado.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

AGENDA 1965



foto alberto cesar araujo


08/fev.

A guerra do Vietnam parece não ter fim. Chega a todos os extremos. A União Soviética está apreensiva e ameaça os EE.UU de ajudar o País irmão, que se bate pela sua independência.
09/fev.

Os dias vindouros nada acenam de bom com respeito a finanças. E as dívidas se acumulam. Pudera: a subsistência de muitos depende de apenas um. Abordo amigos, peço dinheiro emprestado. O Ministério do Trabalho continua sem pagar a gratificação de função que venho exercendo, me viro no jornal, entro na fila do¨vale¨ nos fins de semana. Fato curioso: nega-se a moeda salvadora, mas nunca a bebida.
N. do A.: José Coelho Maciel, ou apenas o Maciel, trabalha na série de quadros para uma exposição em Manaus. Foge ao comum no estilo e na temática. Maciel me acompanhava nas andanças desse perímetro urbano tradicionalmente conhecido como bairro dos Remédios, de tantos caminhos cruzados. Pois, bem: o vigor físico de minha mãe lhe permitia que fosse de sua casa na Joaquim Nabuco à minha na rua Izabel, e de lá tomasse o rumo da Delegacia Regional do Trabalho, sem qualquer mostra de cansaço.

10/11 fev.

Correspondência do Getúlio Alho sobre o nosso projeto de organizar e fazer editar uma antologia de contos amazônicos.
*Os mesmos dias se repetem aos caprichos do signo e do insigni/ficado.
*Vai bem adiantada a leitura dos três volumes de ¨Ascensão e Queda do Terceiro Reich¨.
*O momento atual é tenso, muito tenso. Nenhum deslize deverá perturbar o andamento das coisas até que chegue o mês de junho, previsto como decisivo para as nossas demandas.
*Mais leitura, esboços etc. Ligo e ouço a RCM.
*Atividades literárias praticamente suspensas. Tudo por conta das tais expectativas, já que têm estas e o assunto que envolvem a chave de nosso futuro. Ou isto ou nada.
*Nas livrarias ¨Aspectos Sociais e Econômicos da Cidade Flutuante¨ e ¨Folclore Amazônico¨, I volume, de Mário Ypiranga Monteiro.

domingo, 25 de setembro de 2011

ADEUS, AMIGO NETO!




ADEUS, AMIGO NETO!

Jorge Tufic


Hoje, dia 25 de setembro de 2011, se aparta de nós o poeta-irmão Joaquim de Alencar e Silva (o Neto, como sempre foi chamado), e, em seu lugar, nesse Rio de Janeiro que ele tanto amara, fica a primavera recém chegada, somando às flores do seu velório uma galáxia de bogaris e crisântemos, numa festa também de rosas ao lírico de LUNAMARGA e tantos outros livros de sua autoria. Chegou-nos a notícia através de um telefonema do Max Carphentier, e, logo, pela Internet, começa a expandir-se a foto do poeta e um resumo de sua biografia. Tudo muito rápido, enquanto as grandes famílias Dutra e Alencar pranteavam o trespasse desse inigualável pai e esposo, sem a menor quebra de harmonia entre sua pena de ouro e os encargos decorrentes do aconchego doméstico, frequentemente dividido com os amigos de longos anos, parentes e a gente humilde de Botafogo, bairro este onde a Casa de Rui Barbosa permanece como um símbolo de tradição e respeito à história de nossa cultura.

Para mim, que devo tudo o que sou a ele, no que tange ao saber e o aprendizado das letras, e apesar do quadro de saúde nada esperançoso que vinha apresentando nos últimos meses, a notícia dada pelo Max à Izabel, pelo telefone, encontrando-me eu ausente de casa, conseguiu nos abalar como se o mundo acabasse de ser atingido por aquele meteoro de que nos fala Henri Klibnik, autor de ¨La Grande Peur de Lan 2000¨. Sem ação, contudo, restava-nos apenas ficar imaginando o que realmente teria acontecido ao Neto , sem ninguém disponível, nesse domingo, a nos dar qualquer luz nesse túnel de angústias e dolorosas interrogações, tendo às voltas dramas e tragédias como estas das cidades desertas pelo final de semana, a par de uma inexplicável ausência de profissionais da saúde nos postos de atendimentos. Em seguida, porém, telefonou-me o Renato Farias, ansioso também para obter informações concretas sobre aonde poderia se dirigir para o último adeus ao querido amigo. E, por último mesmo, recebi o telefonema do Saulo, quando, enfim, já não tinha mesmo jeito, choramos juntos.

Alguns meses antes, presenteou-me o Alencar com um bilhete de passagens Fortaleza-Rio-Rio-Fortaleza, com estada em sua própria residência, em Botafogo, tempo esse, de dez dias, em que estivemos juntos, ajudados pela Hilma, sua filha, na escolha de 200 sonetos de todos os seus livros, para futura publicação, cujo prefácio escrevi, tomado por uma alegria e um orgulho imensamente juvenis, chegando a sentir-me azul diante desse mistério narcísico, segundo uma parábola de Oscar Wilde, em que o discípulo se vê como se fosse o mestre, olhando-se em seus olhos.

Antes de meu retorno a Fortaleza, ele e Nair, sua esposa, deram-me um terno novo do poeta, para que eu o provasse, e, dando certo, ficasse com ele como lembrança daqueles dias memoráveis. E assim o fiz, não contendo as lágrimas, já a bordo da aeronave, quando pude compreender o segredo e o mistério do verdadeiro afeto, diante do mar e da eternidade.

sábado, 24 de setembro de 2011

RETRATO DE JORGE TUFIC 2


Rogel Samuel




2. Teus cabelos castanhos, tuas tranças
fazem lembrar as madres de Cartago.
Doce mãe, sombra tépida, murmúrio
de sonâmbulas fontes; poucos sabem
teu nome, enquanto, fatigada embora,
dás-nos o pão e o leite, a flor e o fruto.
Poucos sabem te amar enquanto viva
e, quando morta, poucos também sabem
da fraqueza que em força transformavas.
Ai, retrato de mãe, quanto mistério
se converte na tímida lembrança
destes álbuns que lágrimas sulcaram.
Na verdade, Ramón, só de lembrá-la
um soluço arrebenta-nos a fala.
Depois a casa, a cozinha, as comidas da culinária libanesa, a lentinha, o azeite, as cebolas fritas, a coalhada, o pão redondo, que a Mãe preparava... mas tudo passou. Onde as comidas, os pratos de lentilha, a terrina de azeite para as coalhadas, as cebolas fritas? Ao redor da casa, o vento passa. Como o tempo. Também a cerca do quintal, os vizinhos, as vozes cantantes, e se foram. E o que faz aquele Calendário sem datas, o chão do passado, o que perdido. A casa da mãe. O que muda. O chiar da frigideira. Os convites. O sucedido convida o leitor a seu chamado culinário: a mãe é a cozinheira das almas, das afetividades, da fraternidade, da ternura, o amor recende dessa mãe cozinheira, que ainda manda seus recados e canta, é assim ela aparece, suada e infinitamente bela, luminosa, centro da vida familiar. Social.
A mãe é o corpo da “vida privada”.
A palavra “social” é de origem romana. Os gregos não a conheceram. Societas significava, para os romanos, uma aliança entre pessoas para um fim específico, “como quando os homens se organizavam para dominar outros ou para cometer um crime”.
O pensamento grego era diretamente oposto a esta organização “social”: essa associação natural cujo centro é constituído pela casa e pela família.
A pólis marcava a destruição de todas essas unidades organizadas à base do parentesco. A sociedade representa a família. O ser político, o viver na pólis “significava que tudo era decidido mediante palavras e persuasão, e não através da força ou violência” (ARENDT, Hanna. A condição humana. Rio de Janeiro, Forense/Rio de Janeiro, Salamandra/São Paulo, Ed. Universidade São Paulo. 1981. 339p.). Para os gregos, forçar alguém mediante a violência, ordenar ao invés de persuadir eram modos pré-políticos de lidar com as pessoas, típicos da vida fora da “pólis”, característica do lar e da família, na qual o chefe da família imperava com poderes despóticos; caracterizava a vida dos “bárbaros”, cuja organização era comparada à doméstica.
Toymbee analisou este estado de coisa no seu livro Helenismo (TOYNBEE, Arnold J. Helenismo. Rio de Janeiro, Zahar, 1963. 232p.), em que mostra como a vida familiar era considerada pelos gregos como um lugar onde os participantes estavam sujeitos à perda da liberdade, e à descaracterização de suas individualidades. A vida familiar, diz ele, mantém os homens presos a um elemento por que não optaram e a que não podiam renunciar sem uma violação à própria natureza.
Diz Toynbee:
A vida familiar mantém a humanidade como serva de uma Natureza não-humana. No seio da família, o ser humano não é personalidade independente, com um espírito e uma vontade próprios — é um rebento na arvore da família, que por sua vez e um ramo da árvore evolucionária da vida, cujas raízes mergulham nos abismos do subconsciente (p.55).

A tradução latina do homem como animal rationale é um erro de interpretação. Para Aristóteles (ver PETERS, F.E. Termos filosóficos gregos. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1977. 273p.), o que elevava o homem não era a razão, mas o nous (p.163), isto é, a capacidade de contemplação cujo conteúdo não pode ser expresso por palavras. Todos que viviam fora da pólis eram aneu logou, destituídos não da faculdade de falar, mas de um modo de vida no qual só o discurso tinha valor e sentido, e não a compulsão, não a violência, característica dos povos bárbaros. Hoje o mundo ocidental vive a nostalgia do antigo mundo grego. Pois na pólis, a mais hábil arma era a capacidade de discorrer uns com os outros, e de argumentar com palavras e não com a ação violenta. Neste sentido vive o mundo moderno fora da pólis, num estado pré-político, em estranha regressão.
Da pólis para a sociedade opera-se uma mudança de pensamento político. Na sociedade, o pensamento político já não é arte política, mas economia, economia social. O que chamamos sociedade passa a ser um conjunto de famílias organizadas do ponto de vista hoje burguês, num ser estrutural chamado Estado. Para os gregos, tudo que fosse econômico não era político, mas estava relacionado à esfera do apolítico da vida privada (isto é, privada de liberdade) da família. A vida privada era o lugar doméstico, privado por definição do espaço público, onde o dialogo era franco. Não é sem razão que os textos de Platão se chamam diálogos, isto é, através do logos. Na vida pública estava o espaço da liberdade dos homens livres, não da dependência, da interdependência. E os escravos eram considerados seres desprezíveis não porque estivessem na condição escrava, mas porque se sujeitavam à escravidão, não preferindo a morte, o suicídio, e não tendo a necessária coragem para a vida de risco e de perigo que constituía a vida dos homens livres, onde o perigo apesar de tudo estava sempre presente: pois outro conceito grego eminente era de que a liberdade — supremo bem a atingir — não significava segurança (inferior condição de sujeição a que estavam sujeitas as crianças e as mulheres), mas perigo e aventura, característica dos heróis. E assim a literatura grega é uma longa série de batalhas e de mortes, uma ampla apologia da aventura do espaço, da não resignação do homem com qualquer restrição ao seu existir. Homero, pois, principalmente, foi o pai da ética grega. E um herói grego é a antítese de um burguês.
Portanto, na organização da moderna sociedade burguesa reina o domínio da necessidade, não o espaço da liberdade. O homem moderno é, por definição, passivamente adaptável, resignado e satisfeito com a sociedade e com o bem-estar que esta pode proporcionar-lhe. Por isso, um ser descaracterizado. A política da pólis não era meio de segurança social. As sociedades que se seguiram à pólis grega representaram um conjunto de interesses; seja a sociedade feudal, seja a sociedade burguesa, seja a sociedade socialista.
A liberdade, dentro da sociedade moderna, significa não a liberdade individual, mas a liberdade social. E a força da violência, antes consideradas meros acontecimentos da esfera privada doméstica, é desempenho atual do Estado, encarregado de vigiar e punir.
A força e a violência nascem, portanto, universalidade, da raiz da sobrevivência. Para os gregos, toda forma de governo, tal como o entendemos hoje, representava um estágio totalitário, pré-político, em que predominam a submissão e a falta de espaço, formas desprezíveis de viver.
A vida familiar, portanto, está centralizada ao redor da “mãe”, assim como a vida pública, o espaço público, se refere à vida fora de casa, no espaço da cidade, manifestada e centralizada na figura do pai.
A vida familiar é o regaço, materno. O colo, o abrigo. Nela somos infantes.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

RETRATO DE JORGE TUFIC


RETRATO DE JORGE TUFIC

Rogel Samuel


É um tema banal, popular, vulgar. A mãe, já tão gasto motivo dos cadernos poéticos e saudades, pois todos nós tivemos ou temos a mãe a saudar, a lembrar, a louvar, a chorar.
Mas Jorge Tufic é um poeta excepcional, e não foi piegas: com que realizou sua obra-prima, sonetos pós-modernos em que ele traça o perfil, o “Retrato de mãe“, de sua verdadeira mãe, ou da personagem mãe.
O livro todo está no blog
http://jorge-tufic.blogspot.com/
O pequeno livro é uma obra-prima em quinze sonetos. E começa por uma invocação.

1. Venham fios de luz, aromas vivos
misturar-se às palavras, à centelha
do louvor mais profundo deste filho
que se depura e sofre com tua ausência.
Venha o trigo do Líbano, a maçã
de que tanto falavas; venha a brisa
tecer mediterrânea esta saudade
que vem de ti quando por ti me alegro.
Que venha a primavera, saturando
vales, planícies, colorindo os montes,
noites de luar caiando os muros altos.
Venha a pedra da igreja onde ficaste
quando em febre te ardias. Venham lírios
rebrotados de ti, dos teus martírios

O que lemos aí é a invocação de um sabor (de um saber), de um elemento gustativo, a maçã, o trigo, me o visual, fios de luz, e o táctil elemento do vento, e os aromas, a paisagem, a planície, os montes e as noites, a pedra, a febre, o martírio.
É a invocação.
Venham fios de luz para tecê-la, aromas vivos para senti-la, às palavras do filho descrevê-la, proclamá-la, proferi-la.
Ler é nomear sentidos, fazê-los funcionar, dar-lhes corda, os sentidos estão e/ou partem dali. Ler é um ato de mobilidade, de por em movimentação os sentidos. Mas não todos. Não há um todo, um limite. Por isso, diz Barthes, o esquecimento crítico é um valor do texto, haverá sempre sentidos esquecidos, nunca se poderá reunir todos os sentidos na arena da rigidez de uma grelha analítica.
Na filosofia se definem falar e dizer, num certo sentido: O falar remete ao falante, o dizer remete as coisas mesmas ditas.
O poeta profere o “nome da mãe”, invoca-a. Invocada, a mãe começa a delinear-se, começa a aparecer, vem em fragmentos, pouco nítida, mas forte, sentida, ou pressentida, sim, começa ele a pintar o retrato interno da dulcíssima Mãe, mãe-primavera, mão dos vales, planícies e que logo todos nós assumimos como nossa, e quem consegue falar da própria mãe morta sem tornar-se piegas? Conjuntamente, nossa mãe síntese-simbólica, Fonte, semente e nome de nossa vida, que tudo nos deu. Tema freudiano, pois. Abismo psicológico.
No segundo soneto aparece D. Ramón Angel Jara, Bispo de La Serena, Chile, citado no texto, onde há citações, pós-modernidades.
O autor aí diz: “Calma, não chore, é apenas literatura”.
A descrição, o retrato começa pelos cabelos, tranças, a voz, a lembrança. A fonte do pão, do leite, da flor, do fruto. Mãe que é para “amar depois de perder”, como no verso de Drummond. Na verdade, Tufic só de lembrá-la um soluço arrebenta-nos a crítica.

AGENDA 1965




05/fev.

Permaneci durante toda a tarde na Repartição, datilografando contratos de locação de casas pertencentes ao Dr. Sylvio Moura Tapajós, Delegado Regional do Trabalho. Quando saio me encontro com meu nobre amigo Jorge Abdon Carim. Agora estamos no terraço do Lord Hotel a degustarmos uma garrafa de ¨Lacrima Cristi¨. Antes de levantarmos da mesa – e como remate de assunto afeto à literatura, eu lhe digo: Se um bom livro de poemas não consegue alterar os valores da Bolsa, nós, poetas, nascemos no planeta errado. Ele ri-se, e partimos.

06/07/fev.

Leio o ¨Ascensão e Queda do Terceiro Reich¨, quando chega a mãezinha. Abandono o livro. A seguir, o Maciel também chega. Tomamos vinho, almoçamos juntos. Durmo a sesta. Minha mãe retorna. Fico meio impaciente, faço a barba e saio. Me deparo com o Cosme Hayek no Café do Pina, passeamos com a família até cerca das 22 horas. Estou novamente em casa, ouço um programa da Rádio Rio Mar. Nesse então, me recolho.
* Em silêncio me ponho a conferir certas frases de amigos, salvas do enxurro. Como esta de um desconhecido: Nosso mundo já é uma falta de opção. E por falta de opção nós vamos por aí ou ficamos por aqui. Final de contas, a melhor opção por falta desta é o consolo de havermos tentado. Tudo vale a pena? Comodidade.



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

AGENDA 1965



03/fev.

Passo a tarde na casa de meus pais, repousando.
* À noitinha me encontro com o Alberto Antonio no ¨São Marcos¨, o bar tomado pelo furor das marchas carnavalescas vindas de uma eletrola. Tomamos cerveja, e o papo, como de hábito, girou em derredor das fatuidades.


* Colados ao Orbe-Terra, infinitamos.
A rosa não vegeta: milagra.
N. do A.: Insight(s) ou coisa parecida, tenho por mania registrá-los. Eles servem posteriormente no enxerto de crônicas e até de poemas. São mais úteis do que certas composições poéticas que ficam para depois e acabam no jamais.

04/fev.

Através de um ¨patrício¨ Cônsul Honorário do Líbano vim a saber de uma herança que temos em Batroun, cidade litorânea de meus pais. Pede-me ele documentos, no que foi atendido. Mas fico em dúvidas quanto aos resultados positivos diante da suposição de que ainda existem remanescentes das famílias Jarjura e Abukora no Líbano.



terça-feira, 20 de setembro de 2011

AGENDA 1965




01/fev.

Em andamento a diligência do processo de readaptação. Estrita a colaboração do Murilo.
* Volto à Beneficente Portuguesa onde converso com Mussa que formaliza a entrega da parte que coube a meu pai na partilha dos bens deixados por Yutman. Não pude recusá-la, pois isto seria uma afronta a um preceito religioso do Islã.

02/fev.

Leio nas folgas da Repartição ¨A loucura sob novo prisma¨, obra espírita. Faride, numa de suas ¨fases¨, esteve aqui e permaneceu sentada no banco destinado ao público, em frente ao segmento do balcão que separa este espaço dos Serviços Gerais. Meio supersticioso, consulto o horóscopo que acusa um dia desagradável, recomenda calma. Mãe, genitora, Faride, Emme (¨minha mãe¨, em árabe), são os diversos modos de tratar essa pessoa divina que, lamentavelmente, devido a uma queda seguida de aborto em 1939, nunca mais fora a mesma.

sábado, 17 de setembro de 2011

AGENDA 1965



29/jan.

Volto ao leito no. 7 da Beneficente Portuguesa e torno a entrevistar o Mussa. Novas revelações sobre a tragédia. Esta reportagem é a terceira da série e vai para a edição de segunda-feira.

30/31/jan.

Acordo cedo. Mais do que antes, sinto-me um verdadeiro homem aos 34 anos de idade. Apesar de minha mãe, cujo problema mais se agrava. Temo dar meus chiados por aí ao invés de engulir os sapos do martirológio.
* O peso do mundo e o vazio de tudo.
* Angústias do efêmero, ilusões do eterno.
* Sessão extraordinária do Clube da Madrugada para reforma dos Estatutos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

AGENDA 1965



25/jan.

Entrega-me o Murilo Leví uma lista dos documentos exigidos na instrução do processo que movimenta estas páginas: diligências, fotocópias de Relações de Empregados, Impostos Sindicais e Quadros de Horários com os respectivos vistos dos readaptáveis.


28/jan.

Entrevista com Mussa, o irmão do inditoso Yutman Yussef, abatido no verdadeiro ¨bang-bang¨ da manhã de domingo passado. Revela-me ele o pivot do crime: Raquel, esposa de Kazem. Abre-se então um novo capítulo na história que venho escrevendo para a¨A Crítica¨, já na segunda reportagem. Outras virão, com certeza.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

FOTO HISTÓRICA

ESPAÇO CULTURAL

A SOLIDÃO DA ÁRVORE - MARCUS ACCIOLY


A SOLIDÃO DA ÁRVORE

MARCUS ACCIOLY


FOTO DE ALBERTO CESAR ARAUJO

Durante a Bienal da Floresta, do Livro e do Leitor – realizada no Rio Branco, Acre, pelo escritor Pedro Vicente – refiz uma viagem feita muitas vezes, há muitos anos. Após um frugal café da manhã no Inácio Pálace Hotel, o novo, pois o velho era Inácio Parece Hotel, eu e o poeta Jorge Tufic, a convite de um grande amigo, o boliviano Miguel Ángel Ortiz, saímos de Rio Branco, em direção a Cubija, no Estado de Pando, na Bolívia. As nossas memórias funcionaram de modo diferente: Tufic se pegou com o menino que ele foi no Acre, Miguel, com a sua vida na Bolívia, e eu, com o tempo de um arcaico Rio Branco, que se escondeu por dentro, ou por detrás, do moderno. Assim, chegamos à recente cidade de Capixaba e só no desvio para Xapuri, onde o rio Acre se encontra com o próprio rio Xapuri, é que nossas memórias se encontraram. Visitamos a casa, o Centro Cultural e o túmulo do seringueiro Chico Mendes (que cantei no meu livro – Latinomérica) e logo voltamos à mesma estrada que obrigava Miguel a fazer do seu Honda um cavalo saltando os obstáculos.
A paisagem exibia a devastação sem medida, desde que a borracha cedeu o seu lugar ao gado e o gado à incipiente cana-de-açúcar. Inúmeras castanheiras se aproximavam e se afastavam do acostamento, como uns resquícios da floresta de Hamelet. Cortei o nosso silêncio, sob o silêncio surdo do motor, com uma pergunta: “Quantos metros tem uma castanheira?” Tufic tentou medir, com o olho, enquanto Miguel respondeu: “Cerca de 40 metros”. Algo de doído ligava, em mim, a castanheira da floresta à castanheira da praia, ou amendoeira, quando Miguel prosseguiu: “Como é proibido, por Lei, derrubar castanheiras, elas ficam assim, separadas delas mesmas e da selva”. Observei aquelas árvores solteiras e percebi que algumas de suas ilhas verdes tinham secado. “Parece que elas escaparam, mas estão morrendo, não é, Miguel?” “Pois é, no conjunto elas tem o besouro que, através das plantas e dos cipós, faz a proliferação. Assim, isoladas, o besouro não consegue alcançar a copa e, aos poucos, elas vão morrendo”. “Qual é o tipo de besouro?” “É o mungangá”. “Ah, sei, o cavalo-do-cão, que também reproduz o maracujá rasteiro ou sobre as árvores”. Tufic riu um pouco e disparou: “Esse aí é um cavalo do Nordeste”. Percebi que estava entre um acreano e um boliviano e falei um trecho de cantiga do meu livro Guriatã – um cordel para menino: “Manda música, maestro, / moda má, música má, / mau mestre, muita munganga, / munganguento mugangá”. Tufic aproveitou a deixa e disse algumas cantigas do seu livro: A insônia dos grilos. A partir de então a viagem se tornou um recital.
Depois que atravessamos a ponte e chegamos a Cubija, a cidade também já era outra. “Em Rio Branco, eu só reconheci o Rio Acre, acho que, de Cubija, se Tufic comprar todos os uísques que pretende, só vou reconhecer a alfândega” – eu disse e quase não aconteceu outra coisa, pois, além das bebidas, ele apenas comprou diversas camisas de seda. “O seu caso, Tufic, ao que parece, é de seda e sede” – eu provoquei e ele consertou: “Ao inverso: é de sede e de seda”. Aproveitei o seu “inverso” e, novamente, passamos a dizer algo “in verso” ou “em verso”. Miguel visitou o amigo e ex-governador do Estado de Pando, Felipe, que, com a esposa, Marilu, nos levou à parrilhada. Tufic quase não comeu, em compensação, esgotou, sozinho, mais do que um quarto de uma das garrafas.
De volta, eu disse a Miguel: “Comprei tanto bagulho, que tive de comprar uma mala”. “Pois é, Tufic já leva a dele, como um camelo”. Tufic não respondeu. Voltei-me do banco dianteiro e Miguel percebeu pelo espelho que Tufic sonhava. Tirei a máquina da sacola e fui fotografando aquelas castanheiras tristes, da beira da estrada, como se quisesse que elas não morressem. Para cada foto, Miguel diminuía a velocidade. “Era bom que fosse assim, Miguel, que tudo passasse, ficasse para trás, mas as árvores estão na máquina e na memória”. “Pois é, e o pior é que ficarão mais na memória do que na máquina”. Tufic acordou de repente e perguntou à-toa: “Vocês estão falando de máquina ou de memória?” “Da máquina da memória e da memória da máquina, Tufic” – eu disse, enquanto Miguel desviou de um buraco e Tufic, com a vantagem do tombo, regressou ao seu sono, ou seu sonho, de poeta.

MARCUS ACCIOLY é poeta. E-mail: marcusaccioly@terra.com.br

terça-feira, 13 de setembro de 2011

AGENDA 1965




20/21/jan.

Leio sobre Ezra Pound e o ¨epos¨ no ¨Jornal do Brasil¨. Lembra-me de Mário Faustino e o poema embrionário que ele pretendia escrever durante toda sua vida.
Começa a lenta e contínua agonia do Leão Britânico, Churchil.
Em companhia do Aluísio etc.
* Um sujeito com quem tive uma arenga no ¨São Marcos¨, mata friamente um vizinho, a tiros. Haverá isso de um revólver comprado para matar Fulano, mate Sicrano? Se assim é, tenho escapado de muitas.

23/24/jan.

Primeiro grande crime do ano. Kazem , um libanês, elimina Yutman, um palestino, durante tiroteio na rua Joaquim Sarmento. O Abrahim Aleme me indica para fazer a cobertura do caso para a nossa ¨A Crítica¨, pretextando que entendo o árabe mais do que falo. Foram duas semanas de idas e vindas entre o presídio, a Beneficente Portuguesa (para onde baixara o irmão da vítima, atingido por um tiro na perna) e a redação do jornal. Fiz o possível e até sobrou para meus pais uma parte do dinheiro do morto, segundo a religião maometana.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

AGENDA 1965




16/17 jan.

Atritos constantes na Repartição. Não tenho como desabafar senão me utilizando de uma frase de Wilhelm Reich: ¨Faz parte do meu respeito pelas pessoas expor-me ao perigo de dizer-lhes a verdade¨ ( do livro ¨Escuta, Zé Ninguém¨).
* Café do Pina (RLP), onde a conversa é sobre a praça Gonçalves Dias, que já tem projeto e escultura de Álvaro Páscoa com medalha da efígie do poeta maranhense. A nova praça será construída aí mesmo em redor do pavilhão, formando um delta.

.

* Em companhia do Aluísio até às 24:hs.
* A caminho da rua Izabel, surpreendo um haikai:

No alguidar solitário
pousa o brilho errante
de um vaga-lume.

*Crônicas, poemas curtos, artigos. Neste ano, eu faço a conta do Crucificado: 33 agostos. Antecipo o registro:

Entre um século e outro, bem ou mal
teci meu labirinto – e à roda preso
deste planeta azul fico surpreso
de ser um deus num corpo de animal.

domingo, 11 de setembro de 2011

AGENDA 1965



14/jan.

Como adoçar os crótalos selvagens de meu caminho? Quem sabe o entremeio filosófico ou um pouco de lirismo me ajude nisso. Se não, vejamos.
A Natureza não tem os olhos parados. Ela tudo vê e tudo guarda. Transporta-se com as cinzas da usura que lhe deita fogo, se oculta, transfere-se de habitat, mas faz seu retorno. Enquanto isso, mesmo no centro urbano, as árvores rareiam, o sol castiga, aumenta a predominância de material inerte, o termômetro sobe. Para onde estamos indo?

15/jan.

Este é um dia agradável, amplo. Ao decerrar as janelas do quarto meus olhos percorrem os arredores do Igarapé da Bica, neste começo da rua Izabel que emenda com a dos Andradas, Miranda Leão e rua Oriental. Suas margens, principalmente a margem direita de quem vem do Educandos, estão qualhadas de casebres flutuantes. Eles formam uma cidade que começa perto das docas e vai depositar-se além das pontes da avenida Sete de Setembro. Sempre que o rio baixa os casebres ficam no seco, uns caídos à direita, outros à esquerda, conforme o terreno. Têm sido um prato cheio para os artistas plásticos e uma dor de cabeça para o Governo Militar.
* Nos próximos dias será lançado um livro sob o título ¨Aspectos Sociais e Econômicos da Cidade Flutuante¨

sábado, 10 de setembro de 2011

AGENDA 1965




11/jan.


Repartição. Sou chamado a receber de volta o meu processo de readaptação, agora transformado em diligência para juntada de trabalhos. Ainda bem que os tenho a todos em pastas separadas. E o que dizer de alguns outros pretendentes ao cargo? Pelo menos, são cobras criadas. Que Deus nos ajude a todos.

13/jan.

Repartição. A paisagem das ruas lá embaixo, o cais, o Relógio Municipal, a Igreja Matriz e, a partir da Av. Sete de Setembro, a continuação da Av. Eduardo Ribeiro até a Praça do Congresso. Aqui em cima, movimento habitual de expedição de Carteiras do Trabalho, reclamações etc. Fim de expediente. Casa. Sesta.
* Às 17:hs, ¨República Livre do Pina¨, reunir com os amigos antes do jornal.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

AGENDA 1965



08/jan.

Prossigo minha polêmica com o escritor Paula e Souza nas páginas de ¨A Crítica¨. Defendo o poeta Luiz Bacellar das heresias que lhe foram assacadas, gratuitamente. Da ofensiva no início, agora ele toma a defensiva, mas não se trata aqui de um intelectual capaz de pedir desculpas a quem quer que seja.
N. do A.: Nas províncias do norte e extremo-norte do País, tais polêmicas, geralmente em torno de um verbo no plural ou no singular ( v. g. sejamos modesto ou sejamos modestos), animavam de quando em quando as páginas de nossos matutinos e/ou vespertinos. Na década de 50 em Manaus ainda se comentavam as mais célebres de um passado recente, envolvendo nomes famosos como os de João Leda, Péricles Moraes, Huascar de Figueiredo, entre muitos outros.

09/jan.

Aceitei trabalhar na base de produção na Empresa Calderaro, jornal e editora. Continuamos – a equipe jornalística do Clube da Madrugada – a manter o Suplemento literário de ¨O Jornal¨ aos domingos. O nosso Aluísio Sampaio, incansável na direção, segue a esteira do ¨Jornal do Brasil¨ revolucionando o aspecto gráfico da página, ora a incentivar novos ilustradores, ora a utilizar-se de ¨cíceros¨ maiores confeccionados de madeira. O Álvaro Páscoa, sempre conosco, é o mestre da xilogravura.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

AGENDA 1965




06/01

Faltei ao expediente da Repartição para conferir algumas situações alusivas ao meu pedido de readaptação para Inspetor do Trabalho. Banco Comercial do Pará: 200.000,00.
N. do A.: Estas faltas eram necessárias. Eu não contava com ninguém para me representar ou tirar fotocópias de documentos. Tampouco nos casos em que minha presença era reclamada para resolver problemas domésticos, a exemplo das crises nervosas de D. Faride, sem falar nos casos de renovação de empréstimos a bancos, agiotas e cooperativas.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

AGENDA 1965



05/jan.
Meu grande talvez maior problema continua com seus ¨tumultos¨ na cidade. Trata-se de minha pobre mãe Faride.
* Encontro com meus pais para o sagrado almoço de todos os dias. O velho está mais velho, acabado, roto. Mas nada, por enquanto, a fazer, pois falta o ¨melhor¨. O pouco que ganho não chega para as despesas das duas casas.

N. do A.: A uma considerável distância desse ano, verifico que ainda conservo, dobradas no interior desta agenda, anotações que me impressionam por seu alcance no tempo e no espaço: por exemplo, meu primeiro emprego em Sena Madureira, aos oito anos de idade, como servente no Armazém de Fares & Irmão, situado na rua Purus; em seguida vem a mercearia de tio Estevam Jorge, na Travessa Major João Câncio, que vai dar no porto; já em Manaus, meu primeiro emprego foi na loja de Bady Mussa Dib, à entrada do setor de venda de peixes do Mercado Municipal ¨Adolpho Lisboa¨, ano 1945. Outros empregos: Abdon Razac, na Estação dos Bondes; Loja ¨Vitória¨, à rua da Instalação; jornal ¨Folha do Povo¨, de Francisco Rezende, no Beco do Comércio. Empregos com Carteira Profissional assinada:Weyne Equipamentos do Brasil, à rua Juan Pablo Duarte, 64, Cinelândia, Rio de Janeiro; 1951; vespertino ¨A Gazeta¨, do Dr. Avelino Pereira, à rua Saldanha Marinho, 140, Manaus-AM; Empresa Archer Pinto Ltda., na avenida Eduardo Ribeiro, 556; cargo: redator; Manaus-AM; Fundação Cultural do Amazonas, na rua Huascar de Figueiredo, 1019; cargo: redator do ¨Jornal Cultura¨ etc. Data da dispensa: 29.12.1983; Imprensa Oficial do Estado do Amazonas ( tempo de serviço comprovado em recibos e edições do Suplemento Literário Amazonas. Cargo: membro da Comissão Editorial; data da admissão: 01.01.1986; data do encerramento das atividades do SL Amazonas: 31.12.1988.

Serviço Público Federal. Através do ¨Diário Oficial da União¨ de 22.01.1954, Seção do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, fui designado para exercer, em caráter provisório, a função de Identificador, referência 19. Assumi em 24.02 1954, na gestão do Dr. Edmundo Fernandes Levi como Delegado Regional do Trabalho. A sede da DRT ainda era na Praça Heliodoro Balbi, em frente ao Colégio Estadual do Amazonas.
De Identificador, função provisória, passei para Auxiliar de Datiloscopista nível 8-A.
Fui nomeado Inspetor do Trabalho (assunto dramático destes rascunhos) através do ¨Diário Oficial da União¨ de quinta-feira, dia 30-12-1965, texto legal assinado pelo Presidente Humberto Castelo Branco. Na íntegra: De acordo com o art. 45, combinado com o art. 46 da Lei no, 3.780, de 12-09-1960, art. 1º. do Dec. no. 52.400, de 25-08-1963, e art, 21 do Dec. no. 49.370, de 29-11-1960 etc..

terça-feira, 6 de setembro de 2011

AGENDA 1965


Nenhuma dúvida quanto à existência de muitos passados em nossas vidas. Atividades em locais diferentes, inclusive em horários e dias alternados, dividem o tempo entre a vida prática e a literatura. Outros afazeres e prazeres também se encaixam nesse mosaico, embora nele se sobressaia o que mais deveria absorver nossa força de trabalho, ou seja, o emprego fixo do qual se recolhe, ao fim de cada mês, o famoso salário que na esfera pública convencionou-se chamar de vencimento. Deste período, essa agenda de 1965 registra uma luta sem quartel por um cargo melhor de chefia ou, a partir de 1960 a 62, pela readaptação de Servidores que tinham esse direito, como era o meu caso.
A leitura de tais anotações me devolvem à rotina de todo esse ano, mas um tanto diversa dos anos anteriores devido à expectativa de minha nomeação e de vários outros colegas para o ambicionado cargo de Inspetor do Trabalho. Uma justa abertura aos milhares de funcionários que aguardavam por um concurso público e, à falta deste, tiveram que atender aos desvios de suas funções em localidades distantes, insalubres e perigosas. Numa pasta que ainda conservo a sete chaves, ali estão dezenas de portarias, ordens de serviço, memorandos, ofícios etc., parte dos quais servira na instrução de meu processo remetido ao DASP (sigla da época).
Tentarei recolher este simulacro de diário, na verdade um mero suporte aos mínimos desabafos que eu tinha que levar para casa, vezes chegando do Ministério do Trabalho, vezes do jornal e outras vezes das reuniões com a equipe do Clube da Madrugada encarregada de preparar a página literária que mantínhamos na imprensa, sendo a mais importante a de ¨O Jornal¨, da empresa Archer Pinto Ltda. O certo, porém, é que este repositório de fatos, encontros, dramas familiares, entre tantas miudezas que não puderam ser evitadas ao fluxo de penosos acontecimentos, consagra um mesmo espaço temporal para as mais absurdas surpresas e as mais inesperadas soluções (como no episódio do despejo de meus pais da casa que ocupavam na avenida Joaquim Nabuco, número 329, em Manaus).

1º. de janeiro de 1965

Café. Leitura: ¨Cadernos de Crítica¨, de Antonio Olinto, ¨Clareza e mistério da crítica¨, de Adolfo Casais Monteiro, ¨A Raposa e as uvas¨ (III) etc. Almoço na casa dos velhos, onde pretendo dormir até às 15 horas. Às 17 me encontro com o Zé Roberto no Café do Pina, o qual me passa os primeiros resultados do Enquadramento definitivo e das readaptações em poder do DASP. Sinto-me justificadamente pessimista quanto ao ano que se inicia. Retorno à casa onde confiro os acontecimentos do dia. Tudo muito vago.

Nota do Autor: A casa de meus pais ficava na avenida Joaquim Nabuco, no. 329, e a minha à rua Izabel, no. 16, no mesmo bairro.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

AGENDA 1965




02/03/jan.

Chove. O fora e o dentro parecem a mesma coisa. Visto-me às pressas e saio para o jornal. Encontro-me com o Murilo na Marechal Deodoro: confirmo com ele as minhas suspeitas com base na demora de uma resposta acerca de nossas readaptações. Dois anos de espera, e nada. Oficina do jornal, serviço de paginação.
* Na ¨Pensão Maranhense¨, tomo assento à mesa do Aluisio Sampaio. Chegam a seguir o Arthur Engrácio, o Alencar e Silva (Neto) e o Abrahim Aleme. Ali mesmo, respondendo a uma pergunta que lhe faço, diz-me o Aluisio que a partir de segunda-feira já posso iniciar minhas novas atividades de Redator no jornal em que ele ocupa o cargo de Secretário, ou seja, ¨A Crítica¨. Salário mínimo, um só expediente.
Dívidas. Cálculos. Contas-de-chegar (decepções). Ao Banco da Lavoura 120.000,00 (em cruzeiros); à Caixa 80.000,00.

domingo, 4 de setembro de 2011

CIDADÃO DE MANAUS


Senamadureirense ganha 'título de cidadão' em Manaus





Jorge Tufic (1930) Nasceu Sena Madureira, Acre, onde ao som das violas sertanejas dos Soldados da Borracha, captou os primeiros rebentos de sua vocação para a Poesia. Residente em Fortaleza, CE desde 1991.

Poesia mesclada com as origens libanesas, lembranças da infância e das lendas amazônicas. O encontro de Jorge Tufic com a inspiração poética começou cedo, em Sena Madureira, Acre, com a chegada dos soldados da borracha. Naquele tempo ele tinha cinco anos de idade, e o ano era 1935. “Eu costumava ficar ouvindo as trovas, o ponteio das violas sertanejas, os repentes e histórias fantásticas daquele povo”, lembra o poeta e jornalista, que escreveu os primeiros versos aos 15 anos. Hoje, ao seu acervo poético somam-se 42 obras, entre poesias, contos, ensaios e sonetos.

Ainda na infância, perdia-se na floresta, inventava palavras e deixava a imaginação voar alto. Mas, de repente, num livro escolar do primário, brotaram surpresas que despertaram a paixão do escritor pela poesia. “Tudo em Sena Madureira, aliás, como as serenatas boêmias despertavam nos meninos de minha idade um sentimento romântico muito mais forte do que a nossa capacidade de expressar alguma coisa”, conta.

Descendente de uma tradicional família de comerciantes árabes, é filho do libanês Tufic Alaúzo, que mudou para o Brasil no começo da década de 1920 e desenvolveu suas atividades comerciais nos seringais. Por isso, a forte influência da língua, da cultura e da arte árabe de contar histórias. “A influência do árabe, falado em nosso cotidiano antes do português, marcou bastante. Junto a isso, convém lembrar as noitadas de música, ao som dos alaúdes, com vinhos finos, arak e um vasto serviço de comidas típicas do Líbano”, lembra

Com o declínio da produção de borracha, no início da década de 1940, a família de Tufic mudou para Manaus, onde o autor realizou seus primeiros estudos. Exerceu, durante boa parte de sua vida, a atividade de jornalista. Com a aposentadoria, fixou-se em Fortaleza, no Ceará, passando a se dedicar exclusivamente à literatura.

Sua estréia literária aconteceu em 1956, com a publicação de Varanda de Pássaros. O discurso poético de Jorge Tufic se desenrola por um lado, por forte conteúdo existencial. A outra margem do discurso poético de Tufic se fundamenta nas preocupações formais e no caráter experimental de seu processo de criação. “Minha produção literária é uma evidência de minha identificação com o universo regional, meu esforço em criar uma obra identificada com os mitos, anseios e esperanças do homem da Amazônia”, destaca.

Trajetória



Jorge Tufic nascido em Sena Madureira, no Estado do Acre, no dia 13 de agosto de 1930, iniciou sua educação em sua cidade de origem, transferindo-se posteriormente para Manaus, onde concluiu os estudos. Em 1976 recebeu o diploma “O poeta do Ano”, prêmio concedido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas, em reconhecimento à sua vasta e intensa atividade literária. Tem seu nome inserido em várias antologias, entre as quais destacam-se “A Nova Poesia Brasileira”, organizada em Portugal por Alberto da Costa e Silva, e “A novíssima Poesia Brasileira”, que Walmir Ayala lançou na Livraria São José, no Rio de Janeiro, em 1965.


É sócio fundador da Academia Internacional Pré-Andina de Letras, com sede em Tabatinga, no Estado do Amazonas. Fez várias conferências literárias e é membro efetivo de algumas entidades culturais, tais como: Clube da Madrugada, Academia Amazonense de Letras, União Brasileira de Escritores (Seção do Amazonas) e Conselho Estadual de Cultura. Pertenceu à equipe da página artística do Clube da Madrugada, “O Jornal” e do “Jornal da Cultura”, da Fundação Cultura do Amazonas.

Tufic também é o autor da letra do Hino do Amazonas. O poeta conquistou o primeiro lugar em concurso nacional promovido pelo governo do estado em 1980. Colaborou e ainda colabora com vários órgãos de imprensa como “A Crítica”, “Amazonas Cultural”, Suplemento Literário de Minas Gerais, Revista de Literatura Brasileira e “Diário do Nordeste”.

Por tudo isto, e pelo amor que tem a Amazônia devido a sua dedicação à cultura, sendo verdadeiro embaixador da região por onde passa, orgulho-me, como representante do povo, em pleitear a este Douto Parlamento seja outorgado, com sentimento de reconhecimento e gratidão pelos relevantes serviços prestados à população amazonense, o Título de Cidadão do Amazonas, ao poeta JORGE TUFIC ALAUZO, a comenda mais importante desta Augusta Casa.

Projeto de Lei nº 135-09 de autoria do Deputado Sinésio Campos a realizar-se às 10 horas do dia 23 de Março de 2010, Edif. José de Jesus de Albuquerque.

JOSÉ MARTINS ROCHA


Jorge Tufic, o meu nome é José Martins Rocha, sou um caboclo de Manaus, tenho um blog denominado BLOGDOROCHA, voltado para a cultura amazônica, cheguei até você através do poeta e escritor Rogel Samuel. Estou sabendo que você acabou de fazer 80 anos de vida, que coisa boa e bonita! Parabéns, meu amigo!






Não sei se você foi homenageado em Manaus, caso negativo, irei fazê-lo agora, neste pequeno espaço.




Jorge Tufic, um brasileiro de Sena Madureira (Acre), nasceu poeta, pois o poeta não se faz, ele já nasce feito! Morou e produziu muito na cidade de Manaus, foi agraciado, em 1976, como “O Poeta do Ano”, homenagem do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas.




Foi um membro ativo do “Clube da Madrugada”, da Academia Amazonense de Letras, da União Brasileira de Escritores e do Conselho Estadual de Cultura. A data maior do Estado do Amazonas é no dia 5 de Setembro, na qual se comemora a sua liberdade política – Jorge Tufic foi a pessoa que fez a letra do “Hino do Amazonas”, que coisa bonita ele escreveu: “Amazonas, de bravos que doam. Sem orgulho, nem falsa nobreza. Aos que sonham seu canto e lenda. Aos que lutam mais vida e riqueza”. Palmas, muitas palmas para o Amazonas e para o Jorge Tufic!




Ele foi um funcionário público, ao se aposentar mudou-se para Fortaleza, onde passou a exercer integralmente a literatura. Escreveu "Varanda de Pássaros", "Poema-Coral das Abelhas", "Agendário de Sombras", "Trinta Anos de Clube da Madrugada", "Chão Sem Mácula", "Sonetos de Jorge Tufic" e outros tantos.




Jorge Tufic, que Deus o proteja. Parabéns pelos seus oitenta anos! Valeu!


sábado, 3 de setembro de 2011

José Ribamar Mitoso


QUANDO AS NOITES VOAVAM


Depois de Amazônia: O Massacre e o Legado, o qual tive a honra de prefaciar, recebo agora do poeta Jorge Tufic o livro Quando as Noites Voavam. Editado pela editora popular, em Fortaleza , Ceará , 2011, este livro é mais uma tentativa do poeta em unir teoria e prática: a teoria Amazônica da literatura e a práxis Amazônica do fazer poético. Em uma e outra, Tufic é inaugural, pioneiro, originalíssimo.
Nos anos 80, quando propôs uma teoria da linguagem poética Amazônica, Tufic recuperou os princípios estéticos da primeira geração modernista brasileira, dita nativista, e organizou suas características expressivas: linguagem indireta, analógica, metáforas enraizadas na flora , na fauna e na expressão mítica,relações causais mágicas, imagens alucinógenas, vocabulário onomatopaíco, entre outras -

" Dai-me o sono Kaxpi, dai-me. Ai, kaxpi, meu sapo cozido, meu pote sonâmbulo, minha canoa tonta, meu rio afogado(...) uma outra vez, dai-me, kaxpi,a visão da maloca, a palha seca umari, meu banquinho feliz, meu trovão de brinquedo(...) Teu vinho de lua, teu visgo doce de flauta, tua boca de arco-íris, fazem ver estes lugares,kaxpi. Ouvir o milho pita, a mucura canhem, a onça, a forquilha. (...) Ainda estamos em viagm, kaxpi, na barriga da cobra ".

Tufic recuperou a linguagem secreta "dos nheengatus" Amazônicos e a estética Boopeana de Cobra Norato, transpondo-as para a invenção poética: novas formas para novos temas. Sua idéia é aproximar a teoria do objeto. Nada de teorias formuladas longe do objeto estético Amazônico e , mesmo assim, "esquartejando Macunaíma a partir de formalismos russos, estruturalismos francêses, estéticas alemãs da recepção(...) e quejandos...". Adorno. Tufic foi leitor de Maiakóvski: "Não há arte revolucionária, sem forma revolucionária" . Digamos assim: Não há arte Amazônica sem forma Amazônica. E estamos conversados.
No prefácio de Amazônia: O Massacre e o Legado, ainda na lira dos meus vinte anos, fiz uma análise discursiva da teoria e da poesia de Jorge Tufic. 25 anos depois , poeta publicou os papéis amarelados pelo tempo. Na época, o poeta era sexagenário- Mais sexy que genário, quer dizer: poeta e pensador.
Agora, quando meu amigo blogueiro Rochinha soprou a brasa viva da memória, fez todos nós pensarmos na falha: Tufic fez 80 anos. Ele fez os anos . Os anos não o fizeram.
Quanto vigor físico, quanto vigor intelectual, quanto vigor poético.
A tradição oral arawak-tukano ( yepá-mashã), poeta, continua navegando na barriga da cobra-canoa transformadora. Por trás do mito, o segredo da linguagem perdida e recuperada. Expressão indigena e indígena-cabocla (caboca): faz sentido para quem conhece o ecossistema da floresta, o ciclo das águas, a fruta da época, a hora da pesca, o momento da caça, a pororoca e a mística nuclear da floresta, teorizada pelo sábio Evandro Carreira.
Mas talvez a floresta capitalizada, Inc. em vez de Inca, não tenha ouvidos nem sensibilidade para sua linguagem. A conexão do humano com o natural ainda não foi recuperada. Talvez o calendário Dessana, medindo o tempo na praia do Tupé, e os rituais dos povos indígenas que voltaram para Manaus, sejam a última chance: 2012 e o calendário Maia das treze luas vaticinou a profecia.


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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

TUFIC

HINO DO AMAZONAS




Letra por Jorge Tufic Alaúzo
Música por Claudio Santoro

Letra

Nas paragens da história o passado
é de guerras, pesar e alegria,
é vitória pousando suas asas
sobre o verde da paz que nos guia.

Assim foi que nos tempos escuros
da conquista apoiada ao canhão,
nossos povos plantaram seu berço,
homens livres, na planta do chão.

Amazonas, de bravos que doam,
sem orgulho nem falsa nobreza,
aos que sonham, teu canto de lenda,
aos que lutam, mais vida e riqueza.

Hoje o tempo se faz claridade,
só triunfa a esperança que luta,
não há mais o mistério e das matas
um rumor de alvorada se escuta.

A palavra em ação se transforma
e a bandeira que nasce do povo
liberdade há de ter no seu pano,
os grilhões destruindo de novo.

Amazonas, de bravos que doam,
sem orgulho nem falsa nobreza,
aos que sonham, teu canto de lenda,
aos que lutam, mais vida e riqueza.

Tão radioso amanhece o futuro
nestes rios de pranto selvagem,
que os tambores da glória despertam
ao clarão de uma eterna paisagem.

Mas viver é destino dos fortes,
nos ensina, lutando, a floresta,
pela vida que vibra em seus ramos,
pelas aves, suas cores, sua festa.

Amazonas, de bravos que doam,
sem orgulho nem falsa nobreza,
aos que sonham, teu canto de lenda,
aos que lutam, mas vida e riqueza.

HINO DO AMAZONAS



LETRA DE JORGE TUFIC

Poemas


Poemas



Jorge Tufic




I


Amo arrumar palavras. Porque sei
que há traças percorrendo
em rios os papéis.

Coisa difícil é dar. Difícil
como saber se damos quando damos
ou tiramos quando tiramos.

Mas as traças são cegas.
Cega a vontade de morrer
mais cega a de escrever.

Palavras são sangue, mesmo
as que gravadas sem propósito.
E ninguém mais do que as traças
sabe disso.


II


Ouvi um chamado distante,
sem voz. Em seguida a surpresa
de assistir à queda de um ovo
pintado com as cores do arco-íris.

─ Algum anjo brincalhão
Querendo tirar barrigada.

Depois outro ovo e mais outro,
tantos, de tantas cores,
que ao chegar em meu quarto
estava transfigurado. Decerto
não atendi ao chamado da poesia...


III


O poeta vai pela rua.
Ninguém está vendo o poeta
porque o poeta é transparente.

O poeta atravessa a ponte
o poeta desfolha a rosa
o poeta contempla o mar.

Ninguém está vendo o poeta.
Mas duvido que ninguém sinta
a sua presença abstrata.

Tosco, o antro da noite


Tosco, o antro da noite,
em ocre ou madeira fóssil,
aproxima-se de nós
em máscara e mito.

Seus olhos rasgados,
por arte esquecida rastreiam
cardumes de lava,
silenciosos caminhos de chuva.

O traço oval do conjunto
é um pássaro fixo,
antigo e severo.
A boca é outro enigma
que também nos devora.


Jorge Tufic


Do livro: "Fui eu", Escrituras, 1998, SP

CLASSIFICADOS


CLASSIFICADOS

Jorge Tufic


COLOMBOVO

Era um robe , mas também um agradável exercício, a mania que sempre tive de por ovos de galinha na posição horizontal. A par disso, talvez por mera vaidade, sem a menor preocupação de explicar que jamais fora possível colocá-los nessa posição unicamente com o auxílio das mãos, quando isto só contribui para o desequílibrio do corpo em movimento. O ¨segredo¨, afinal, consiste em dar-lhes, com as mãos, o devido apoio mecânico para que possam encontrar o seu exato eixo gravitacional; e, assim, como por mágica, ficarem de pé em qualquer superfície plana, até mesmo no vidro ou na mica de um relógio. Quando passei isso a alguns jovens do bairro de Santo Antonio, em Manaus, todos eles obtiveram sucesso.

LEITURALEM


Leitura não é só de letras. Também de mundo, é. O olhar tem brilhos capazes de penetrar nos abismos, quer das palavras ainda em busca de sentido, quer das coisas. Leia-se um pouco de Sartre, tome-se a carona dos vastos painéis de Fernando Pessoa. Isto é leitura. Ainda mais quando letras e labirintos possam franquear os limites da sedução pelo mito. Com efeito, o mito é a leitura de todos os fenômenos que cercam as possibilidades de um clarão a mais em nossas deambulações metafísicas, aqui onde se toca o mistério, a esperança e a renúncia ao que se mostra fácil e monótono.


O SEBO DOS MORTOS-VIVOS

Precisando adquirir um exemplar de meu livro, publicado em 1999, sob o título de¨Quando as noites voavam¨, estive numa livraria de Manaus, e ali me disseram que o preço do mesmo era de 35 reais.
- E o autor, tem desconto presumível?
- Acho que não.
Idêntica parada aconteceu-me em Fortaleza: encontrei meu ¨Curso de Arte Poética¨ ao preço de 35 reais, estando fora de questão a hipótese de qualquer abatimento para o autor da obra.
E não ficou poraí. Já em São Paulo, encontrei num sebo da Paulista um exemplar de meu livro
Intitulado ¨Retrato de Mãe¨, ao preço de raridade: 60 reais.
Desisti das andanças, vivamente preocupado com o fato de já estar morto há mais de cinquenta anos, e, portanto, sem direito a um desconto de, no mínimo, 20% na compra de meus próprios livros.