terça-feira, 6 de setembro de 2011

AGENDA 1965


Nenhuma dúvida quanto à existência de muitos passados em nossas vidas. Atividades em locais diferentes, inclusive em horários e dias alternados, dividem o tempo entre a vida prática e a literatura. Outros afazeres e prazeres também se encaixam nesse mosaico, embora nele se sobressaia o que mais deveria absorver nossa força de trabalho, ou seja, o emprego fixo do qual se recolhe, ao fim de cada mês, o famoso salário que na esfera pública convencionou-se chamar de vencimento. Deste período, essa agenda de 1965 registra uma luta sem quartel por um cargo melhor de chefia ou, a partir de 1960 a 62, pela readaptação de Servidores que tinham esse direito, como era o meu caso.
A leitura de tais anotações me devolvem à rotina de todo esse ano, mas um tanto diversa dos anos anteriores devido à expectativa de minha nomeação e de vários outros colegas para o ambicionado cargo de Inspetor do Trabalho. Uma justa abertura aos milhares de funcionários que aguardavam por um concurso público e, à falta deste, tiveram que atender aos desvios de suas funções em localidades distantes, insalubres e perigosas. Numa pasta que ainda conservo a sete chaves, ali estão dezenas de portarias, ordens de serviço, memorandos, ofícios etc., parte dos quais servira na instrução de meu processo remetido ao DASP (sigla da época).
Tentarei recolher este simulacro de diário, na verdade um mero suporte aos mínimos desabafos que eu tinha que levar para casa, vezes chegando do Ministério do Trabalho, vezes do jornal e outras vezes das reuniões com a equipe do Clube da Madrugada encarregada de preparar a página literária que mantínhamos na imprensa, sendo a mais importante a de ¨O Jornal¨, da empresa Archer Pinto Ltda. O certo, porém, é que este repositório de fatos, encontros, dramas familiares, entre tantas miudezas que não puderam ser evitadas ao fluxo de penosos acontecimentos, consagra um mesmo espaço temporal para as mais absurdas surpresas e as mais inesperadas soluções (como no episódio do despejo de meus pais da casa que ocupavam na avenida Joaquim Nabuco, número 329, em Manaus).

1º. de janeiro de 1965

Café. Leitura: ¨Cadernos de Crítica¨, de Antonio Olinto, ¨Clareza e mistério da crítica¨, de Adolfo Casais Monteiro, ¨A Raposa e as uvas¨ (III) etc. Almoço na casa dos velhos, onde pretendo dormir até às 15 horas. Às 17 me encontro com o Zé Roberto no Café do Pina, o qual me passa os primeiros resultados do Enquadramento definitivo e das readaptações em poder do DASP. Sinto-me justificadamente pessimista quanto ao ano que se inicia. Retorno à casa onde confiro os acontecimentos do dia. Tudo muito vago.

Nota do Autor: A casa de meus pais ficava na avenida Joaquim Nabuco, no. 329, e a minha à rua Izabel, no. 16, no mesmo bairro.

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