domingo, 30 de outubro de 2011

AGENDA 1965


30/mar.

Quase fim de março e os ventos de Brasília não sopram como estávamos esperando. Amanhã os Poderes da Nação comemoram o primeiro aniversário do Ato Institucional e seus resultados. A Revolução ou Golpe de Estado tem dado ênfase aos setores de Economia e Finanças, que nada apresentavam de positivo. Justificam-se os festejos cívicos em nome da subversão e da roubalheira dos políticos, mas ficam proibidas manifestações sobre os direitos cassados, presos ideológicos, exílio e desaparecimento de pessoas ligadas ao movimento sindical.

31/mar.

Leio ¨O Jornal¨, 16 páginas. Palpita-me a idéia de que a opinião pública está sendo levada para um beco-sem-saída. Os novos cérebros da Nação, estribados no positivismo comtista, observam, de longe, como podem ser adequados ao momento político a desorientação geral e o caos diante do amanhã. Não tendo em que se apegar dada a falta de tradição armada, cultural ou política, o povo se rende ao aparato militar, acompanha a marcha, também, dos confusos acontecimentos que se sucedem; teme a ditadura que, aliás, já se instala confortàvelmente em todos os estados brasileiros.
* O Governador Arthur Ferreira Reis convida o Clube da Madrugada para um jantar no terraço do Palácio Rodoviário, sede do Governo. O encontro ficou marcado para o próximo sábado. A aceitação do convite foi votada e aprovada por Assembléia Geral, tendo falado o clubista Jefferson Peres, entre vários outros, dando-se relevo, sobretudo, à personalidade do grande intelectual e historiador que é o Sr. Arthur Reis, agora investido na função de primeiro mandatário.
N. do A.: O Governo de Arthur Reis, o primeiro do golpe no Amazonas, andou lavando as mãos quanto aos chamados subversivos, mas foi bastante severo com os corruptos, Servidores Públicos e ex-Secretários de administrações anteriores. Todavia, o ponto alto de seu Governo esteve a serviço da cultura, com a publicação de quase duas centenas de obras de pesquisa, ficção, história, folclore etc. Mandava seu motorista parar o veículo oficial em qualquer rua ou avenida de Manaus, somente para abordar e cobrar de jovens escritores originais de sua autoria para que fossem editados nas Coleções do Governo. Eu fui um destes jovens, sem tempo disponível, contudo, para dar conta de originais devidamente estilizados e prontos para entrar no prelo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário