SONETO PARA MARCOS GOMES
Com meu alef te brindo por ser abd
Das suras no adaã que faz
o adab
Dos sábios na adafina da linguagem
Dando ao soneto acordes de alaúde.
Navegas como a lua sendo alfange
Despertando anafis, andaluzias,
Polissêmicos fogos, Meca e pedra,
Tal fossem os arabescos de alefris.
Sem aravias, o alcatrão destilas
De um novo idioma a síntese, o acanto
Trançado com jasmins para o salã.
Despertas Mai das noites indormidas,
Serralhos do Butão; e esta vontade
De ser derwiche, um zégel solitário.
Jorge Tufic
Glossário
Alef- principal letra do
alfabeto arábico.
Abb- servo; escravo de.
Sura- série, sequência, o
mesmo que surata.
Cada um dos capítulos do
Alcorão.
Adaã- fala do muezin do alto
do minarete,
convidando os fiéis à oração.
Pedra- Pedra Negra, objeto que
é o centro
simbólico de todo o Islã; foco
material de
toda a religião muçulmana.
Adafina- coisa oculta;
tesouro.
Anafil- longa trombeta usada
pelos mouros.
Alefris- incisão, corte,
entalho.
Aravia- arabia, linguagem
atrapalhada e difícil.
Algaravia.
Salã- a paz (de Alá seja
contigo). Palavra de
saudação ou cumprimento.
Salmo, salema.
Mai- pseudônimo de Maria
Zlady, poetiza
árabe contemporânea.
Serralho- harem.
Derwiche- místico de seita
islâmica.
Zégel- bailado; gênero de
poesia popular em
Al-Andaluz.