Lentilha, azeite doce, o
acebolado
chia na frigideira de
alumínio;
a casa está repleta de
convites
para a janta frugal e
acolhedora.
Nos arredores brinca o vento: a
cerca
divisória, talvez, nada
separa.
Vizinhando quintais vozes
fraternas
cantam, mandam recados de
ternura.
Assim te vejo, mãe, rosto
suado
na lida da cozinha ou pondo a mesa.
Terrinas de coalhada, o pão
redondo
a recender de ti, mais que do
trigo.
Calendário sem datas, chão de
outrora,
como tudo passou se tudo é
agora?
Que dizer do quarto soneto?
A mulher amada, substituto da mãe. Ou da natureza.
“Pela explosão de uma imagem, o passado longínquo ressoa em ecos e não se vê
mais em que profundidade esses ecos vão repercutir e cessar”, disse Bachelar, em
“A poética do espaço”.
Escreveu
Dom Ramon Angel Yara, bispo de La Serena, Chile, no seu
igualmente “Retrato de Mãe”: "Uma simples mulher existe que, pela imensidão de
seu amor, tem um pouco de Deus; E pela constância de sua dedicação, tem muito de
anjo; Que, sendo moça, pensa como uma anciã e, sendo velha, age com as forças
todas da juventude; Quando ignorante, melhor que qualquer sábio desvenda os
segredos da vida, e, quando sábia, assume a simplicidade das crianças;
Pobre, sabe enriquecer-se com a felicidade dos que ama, e, rica, empobrece-se para que seu coração não sangre ferido pelos ingratos; Forte, entretanto estremece ao choro de uma criancinha, e, fraca, entretanto se alteia com a bravura dos leões; Viva, não lhe sabemos dar valor porque á sua sombra todas as dores se apagam, e, morta, tudo o que somos e tudo o que temos daríamos para vê-la de novo, e dela receber um aperto de seus braços, uma palavra de seus lábios. Não exijam de mim que diga o nome dessa mulher, se não quiserem que ensope de lágrimas este álbum porque eu a vi passar no meu caminho. Quando crescerem seus filhos leiam para eles esta página: eles lhe cobrirão de beijos a fronte; e dirão que um pobre viandante, em troca de suntuosa hospedagem recebida, aqui deixou para todos o retrato de sua própria mãe...” (Tradução de Guilherme de Almeida).
Pobre, sabe enriquecer-se com a felicidade dos que ama, e, rica, empobrece-se para que seu coração não sangre ferido pelos ingratos; Forte, entretanto estremece ao choro de uma criancinha, e, fraca, entretanto se alteia com a bravura dos leões; Viva, não lhe sabemos dar valor porque á sua sombra todas as dores se apagam, e, morta, tudo o que somos e tudo o que temos daríamos para vê-la de novo, e dela receber um aperto de seus braços, uma palavra de seus lábios. Não exijam de mim que diga o nome dessa mulher, se não quiserem que ensope de lágrimas este álbum porque eu a vi passar no meu caminho. Quando crescerem seus filhos leiam para eles esta página: eles lhe cobrirão de beijos a fronte; e dirão que um pobre viandante, em troca de suntuosa hospedagem recebida, aqui deixou para todos o retrato de sua própria mãe...” (Tradução de Guilherme de Almeida).
Que dizer do quarto soneto? O soneto da permanência da
mãe. Mãe não morre nunca. Somos nós mesmos. Ou “calendário sem
datas”.
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