terça-feira, 23 de abril de 2013
QUANDO AS NOITES VOAVAM
Como surgiu a noite
A noite dormia no fundo do rio.
Cobra-Grande guardava as profundezas,
e ainda não havia animais,
nem pássaros, nem peixes.
A noite tinha pálpebras de breu
e ainda vivia encolhida
dentro de um caroço de tucumã.
Aí, os escravos do marido da Cobra-Grande,
partiram para buscá-la.
Pelo caminho de volta,
o caroço deixava escapar abafados ruídos
de grilos e sapinhos.
é que a noite se embalava, sozinha,
nas fibras de tucum.
Assustados com isso,
os escravos soltaram a prisioneira.
e o dia foi logo surpreendido com as coisas
transformadas em animais,
peixes e aves.
de um paneiro, gerou-se a onça;
os cipós viraram cobras;
um tronco de árvore no meio do rio
tomou a forma da anta;
uma pedra começou a andar,
era o jabuti;
os frutos silvestres tornavam-se peixes,
os sons da floresta mostravam o cujubim,
o acauã, o uirapuru.
Feito isso, porém,
a noite e o dia se abraçaram
no corpo da filha da Cobra-Grande.
os escravos, como castigo,
passaram a andar sobre os galhos das árvores.
eles tinham a boca suja de breu,
e deviam, por muito tempo,
se limparem dessa nódoa.
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