quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O PAPEL DO ESCRITOR CONTEMPORÂNEO DA AMAZÔNIA


O PAPEL DO ESCRITOR CONTEMPORÂNEO DA AMAZÔNIA

Sejam quais forem as respostas a tais perguntas, o certo é que é chegado o momento da união, da confederação e dos encontros periódicos, nos quais, sem dúvida, a simples troca de experiências e objetos culturais entre as várias Amazônias compreendidas pelos geógrafos, historiadores, antropólogos, observadores e estudiosos, possa conduzir ao núcleo germinal de uma única Amazônia, como resultado da plena consciência de suas origens comuns, em dez mil anos de lutas e caldeamentos. Se podemos afirmar, em abono a essa tese, que os antepassados ameríncolas perderam seus domínios e sua identidade em quatro estágios diferentes, mas sucessivos – derrota militar, falta de resistência imunológica, derrota pela fome e pelo escravismo e derrota étnico-cultural, segundo o historiador Antônio Loureiro, a mais terrível de todas, - onde nos colocarmos, hoje, frente aos países ricos que nos infligem derrotas semelhantes na taxa de juros e no endividamento externo, senão como vítimas de um novo e definitivo genocídio? Diante dessa realidade, também se coloca o escritor amazônico.

 Não é, pois, à-toa que tornamos a nos voltar, cada vez mais assustados, para as  rupturas havidas no lento e diferenciado processo da nossa colonização, que nos fizera herdeiros de uma cultura imposta, zelosa em manter aqueles povos nativos subalternos do esquecimento e do massacre, de cuja sabença nada se sabe, mas de cujo destino nos tornamos repetidores. Lemos tudo pelo avesso nas cores desse arco-íris de poeira e solidão. Somos a última abertura de um ciclo a fechar-se. Estamos completamente vencidos pelas diferenças que estabelecemos e cultivamos.

Amazônias diferentes e tão semelhantes, aqui se encontram. Irmanadas sobretudo por aquele “algo extraño y triste” de que nos falara Humboldt. Dez mil anos de solidão – resumidos ou “tensificados” nos cem anos do romance de Gabriel Garcia Marques – instalaram no ar e nos seres a nostalgia de um confronto impossível, mas onde a retórica e o fantástico levam vantagem. Deste modo também, as mitologias do espaço construído passaram o rolo compressor nas fábulas ingênuas, nas “bíblias” e no lendário dos primitivos habitantes destas terras e destes rios. A pólvora, o fio da espada e a racionalidade evangelizadora conseguiram, finalmente, dizimar os guardadores desse universo mágico. Todavia, e porisso mesmo, “algo extraño y triste”, ficou. O próprio Amazonas, na comparação de Santos Chocano, ao vir das Cordilheiras, não é mais que “a silenciosa lágrima de um rio.”

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