terça-feira, 4 de março de 2014

CURSO DE ARTE POÉTICA


CURSO DE ARTE POÉTICA
 



           O cotidiano, abrigo de signos & objetos, processo de
todos os processos em qualquer baliza de entendimento,
construção e objetivo, ele tem, na poesia, a única linguagem
que torna possível a diversidade, impossível a comunicação e
permanente a expectativa. O cotidiano no campo, nas
montanhas, nas grutas, nas torres, nos ares, nos rios, nas
florestas, nos oceanos, nos pântanos, como este Mato Grosso
de Manoel de Barros, o cotidiano nas fábricas, nos velhos e nas
crianças, o cotidiano nos mortos. É preciso vê-lo, senti-lo e vive-
lo neste outro cotidiano - resumo de todos os demais cotidianos
- que está na arte do poeta. O cotidiano das normas, das regras
fixas e das terminologias que, logo logo, ao contato das
realidades em fluxo, se ampliam ou desaparecem na conquista
de novas formas e novas palavras. Ou de formas, volumes e
cores apenas, sem qualquer palavra.
           “Nos tempos dos aztecas, segundo crenças
religiosas, ao final de cada ciclo de cincoenta anos, a vida
antiga deveria ser destruída, pelo menos simbolicamente,
iniciando-se um novo ciclo. Isto implicava em que todos os
fogos fossem apagados, todos os utensílios domésticos
destruídos ou renovados” (L.S. Cressman, “Homem, Cultura e
Sociedade”, Ed. Fundo de Cultura, 1956) Tenhamos aí, portanto,
que os templos seriam as obras de arte construídas por todos
os membros da sociedade. Aos utensílios domésticos, como até
hoje se verifica entre os remanescentes íncolas do Alto Rio
Negro (Am), produtos de arte e artesanato, também se
incorporam formas e representações de fundo mítico. Nas
sociedades complexas do mundo atual, encontramos também
uma atmosfera de criatividade e saturação de mitos e símbolos,
que por sua vez se renovam. Mais do que nunca, o cotidiano
global é a Fênix da Poesia. Ele destrói e recompõe com tamanha
rapidez, que até dele nos esquecemos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário