domingo, 8 de junho de 2014

TESTAMENTO

(quadro de Beatriz Milhases)



TESTAMENTO


Deixo-te as latas vazias
de um porre sem vinho;
deixo-te o abrigo
das pontes,
as sílabas do musgo,
a fúria de meus sapatos.
Deixo-te ainda
a minha radiografia:
o vão que fui
entre duas costelas.



A GRANDE FORTUNA

ROGEL SAMUEL

Esse testamento deixa tudo: as latas vazias (de um porre), latas sem vinho, latas vazias; deixa a moradia debaixo das pontes, os (fragmentos) de textos escritos no musgo; os sapatos gastos, furiosos de tanto andar; deixa a radiografia das costelas quebradas, o vão, o oco, o nada, a morte.


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