quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

SONETO PARA ADELAIDE PETTERS LESSA


SONETO PARA ADELAIDE PETTERS LESSA

Quem me dera, Adelaide, ter as asas
destes anjos que ilustram  ¨Vida e Morte¨,
só para ver-te, ó Chácara dos Salmos,
ó Chácara do Encanto, reflorir-se
no louvor às tuas frases, passo a passo
despertando memórias e uni/versos.
Livro feito das vidas que te deram,
dos jardins que incandescem de teus dedos
e a saga vesperal dos equinócios.
Vou lendo, sim, tuas crônicas bonitas,
teus ensaios de Amor; poemas também,
prensadas rosas, fulcros de silêncio.
Vou lendo enquanto penso no que pensa
de mim pensando, a Cósmica Presença.

domingo, 10 de janeiro de 2016

TUFIC NELES


TUFIC NELES!
Benayas Inácio Pereira
O poeta Jorge Tufic, com destaque para os bigodes, mais negros que as asas da graúna.
Foto de Mauri Marques.
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Nas paragens da história o passado
é de guerras, pesar e alegria,
é vitória pousando suas asas
sobre o verde da paz que nos guia.

Assim foi que nos tempos escuros
da conquista apoiada ao canhão
novos povos plantaram o seu berço,
homens livres, na planta do chão.

O trecho acima pertence a um hino que vocês devem conhecer de sobejo. Depois eu falo da importância dele na crônica que se segue.

Imaginem a cena seguinte: um senhor, todo circunspecto, diante de dois vigorosos policiais, a entoar com sua voz um tanto débil, anêmica e quase raquítica, a música dos versos acima.
Voltando meia hora no tempo até chegar ao fato, não há como não achar o acontecimento hilário. Em questão de segundos, o personagem desta crônica viu-se envolvido em uma situação inusitada. Chegando de Fortaleza dirigiu-se para um hotel onde pretendia descansar o “esqueleto”. E foi aí que tudo aconteceu...

O encarregado de recepcioná-lo na portaria estranhou o fato deste senhor se encontrar naquele momento sem nenhum documento ou dinheiro, uma vez que eles se encontravam dentro das malas. Apesar da identificação verbal, o “conceituado” chefe da recepção não aceitou o argumento apresentados pelo ilustre visitante. Nos minutos seguintes, o clima foi ficando tenso e, depois de alguns “elogios mútuos” e com a plena conivência do futuro hóspede, a polícia foi acionada. Com a chegada dos policiais as coisas foram se assentando, pois um deles teve uma “vaga” lembrança de quem se tratava. O diálogo que se seguiu foi mais ou menos assim:
– Qual é o seu nome?

– Jorge Tufic.
– Jorge Tufic... Jorge Tufic... Parece que já ouvi falar do senhor. Deixe-me ver... Por acaso, não foi o senhor que criou a letra do Hino do Amazonas, com a música feita pelo compositor Claudio Santoro?
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– Eu mesmo.

– Então, para que tudo seja esclarecido e que o fato seja “esquecido”, o senhor poderia cantar um pedaço da música?
Tufic deu uma cofiada nos seus bem cuidados e negros bigodes e falou:

– Com todo o prazer.
E com aquela voz maviosa de “taquara rachada”, o visitante comprovou finalmente ser o grande Jorge Tufic.

Agora eu sei que todos os que estão lendo esta matéria já sabem que a letra da música que abre este trabalho é a primeira parte do Hino do Amazonas. Quem se interessar pelo restante da letra é procurar no google.
Pensando cá com os meus botões, cheguei às seguintes conclusões: em primeiro lugar, que o saber não ocupa espaço e é sempre útil em situações como esta. Em segundo lugar, aqui vai um conselhinho a todos que ainda não viraram de página. Se quiserem agir e ter o mesmo sucesso do Tufic, é muito fácil: para isso basta ser jornalista, ensaísta, cronista, poeta (com vários prêmios, inclusive o de “Poeta do Ano”, agraciado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas no ano de 1976), ser sócio-fundador da Academia Internacional Pré-Andina de Letras, ser membro efetivo do Clube da Madrugada, ser imortal pela Academia Amazonense de Letras, escrever “mil” livros, ser premiado em várias partes do Brasil, ter trabalhado nos antigos jornais “O Jornal” e “Jornal da Cultura”, além de colaborar em diversos suplementos literários por este Brasil afora, e ser unanimidade entre todos os que o conhecem. Deixo claro que omiti propositadamente muitos outros atributos relacionados ao Jorge.

Finalmente, e conforme eu ia dizendo, quem quiser se livrar de situações constrangedoras como a que passou o Tufic, é só imitá-lo. Da minha parte, eu prometo começar amanhã cedinho. Espero daqui a 60 anos poder dizer com orgulho: eu sou imitador do Jorge Tufic, aquele que só faz bem, aquele que não tem contraindicação. E quando acontecer de eu topar com algum recepcionista mal preparado para lidar com o público, eu vou bradar: Tufic pra você, ó cara!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

DOS PESADELOS


DOS PESADELOS

Não sei dizer ao menos onde estava,
nem de ter sido aquele que dormia,
nem que os lugares deste sonho havia
na história de algum outro que sonhava.
Sei apenas que o tempo me guiava,
mas o tempo eu não tinha como guia;
sei apenas que tudo o que queria
de minhas mãos tão logo se ausentava.
Ruas, casas, pessoas, brevidades,
sombras, paredes, torvelinho e morte,
nas cartas de um baralho eram cidades.
Que aviso podem dar os pesadelos?
Sonhos bons nunca tive, nem a sorte
de combater os maus antes de havê-los.